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from ANDREA MACERA
A evolução tecnológica tem sido considerada um dos mais importantes fenômenos do século XXI. Na esteira dessa evolução, a transformação digital ganhou lugar de destaque na agenda global, sobretudo no cenário de pandemia do Covid-19. As ações de restrição à circulação de pessoas e de funcionamento de negócios forçaram as empresas a adotar novos formatos de trabalho e de interação com seus clientes, funcionários e fornecedores. Da mesma forma, forçaram os governos a antecipar serviços digitais, exigindo da população uma rápida adaptação e precipitando e acelerando a transição para uma economia digital.
O último relatório de profissões do LinkedIn mostra que, das quinze profissões listadas como mais promissoras no Brasil, nove estão relacionadas à área de tecnologia da informação (TIC), incluindo gestor de mídias sociais, engenheiro de cibersegurança, especialista em Inteligência Artificial e cientista de dados. Vale lembrar que a tecnologia 5G é a chave para o funcionamento das novas fábricas inteligentes da indústria 4.0, sendo considerada o maior habilitador do mundo digital. Entretanto, para que cumpra sua capacidade revolucionária, é fundamental, além da regulação adequada, mão de obra treinada e qualificada.
Estudo do Fórum Econômico Mundial estima que, até 2025, 85 milhões de empregos serão deslocados devido à divisão entre humanos e máquinas, enquanto 97 milhões de novas ocupações podem surgir. Portanto, a transformação digital abrirá novas vagas, mas teremos como preenchê-las?
A aceleração do ritmo da transformação digital decorrente da pandemia criou três grandes desafios para o mercado de trabalho. Primeiro, a (re) qualificação dos empregados (reskilling e upskilling). Conforme estudo do Fórum Econômico Mundial, até 2025, cerca de 44% das habilidades exigidas atualmente dos trabalhadores devem mudar. Segundo, embora os treinamentos e cursos à distância tenham ganhado espaço, os desafios são maiores para o grupo de 14 milhões de desempregados no país. Terceiro, é preciso formar e preparar o capital humano do Brasil para as chamadas “profissões do futuro”.
Diversos indicadores internacionais mostram que o Brasil apresenta uma importante lacuna no desenvolvimento de profissionais com perfil e habilidades para atender demandas da economia digital, que dependem em grande medida de conhecimentos em TIC e da formação em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (conhecidas pela sigla inglesa STEM). O Brasil ocupa a 71ª posição de um total de 141 países no Global Competitiveness Index 4.0, do Fórum Econômico Mundial (2019). Todavia, na dimensão de capital humano, no pilar digital skills among active population, o país ocupava a 133ª posição. No IMD World Talent Ranking (2020), o Brasil encontrava-se na 61ª posição de um total de 62 países, estando na última posição na dimensão readiness (habilidades e competências do capital humano). Ademais, a ausência de habilidades digitais surge como principal explicação para a baixa taxa de adoção de tecnologias digitais e baixa propensão a inovar das empresas de menor porte (OCDE, 2020).
Cabe mencionar o descompasso existente entre a demanda por competências profissionais e a oferta de cursos.
Neste cenário de acelerada transformação digital, algum desequilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra é inevitável, visto que competências e habilidades necessárias são percebidas, desenvolvidas e alcançadas com algum atraso. Mas é preciso construir uma ponte e evitar o “fosso digital”. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) espera contribuir para a construção dessa ponte. Sua responsabilidade de apoiar a formação de estudantes e a (re)qualificação de trabalhadores para a economia digital está diretamente ligada à sua missão de aumento da maturidade digital do setor produtivo.
A ABDI, com o apoio do Ministério da Educação, do Ministério da Economia e em parceria com a Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, está desenvolvendo o Monitor de Profissões. Trata-se de uma plataforma que visa sistematizar dados sobre o mercado de trabalho formal no Brasil, disponibilizar informações sobre as ocupações relevantes e em ascensão na economia digital (mapa de ocupações), além de apresentar as exigências de desenvolvimento de algumas delas (jornadas de capacitação).
Os dados e informações desta plataforma, cujo lançamento se dará no primeiro semestre de 2021, permitirão mapear a oferta atual de cursos, bem como competências, habilidades e atitudes requeridas pelas ocupações, facilitando a adequação de currículos e desenvolvimento de programas de treinamento adequados às demandas dos empregadores. Importa mencionar que o Monitor de Profissões acompanha a tendência verificada em alguns países, que utilizam plataformas para mapear necessidades atuais e futuras do mercado de trabalho. São exemplos O*Net e My Next Move (EUA), Job Bank (Canadá) e Job Outlook (Austrália).
A transformação digital contribui para o aumento da produtividade, a mudança de processos, a criação de novos modelos de negócios e de empregos. Uma economia digital não apenas promove a adoção de novas tecnologias por empresas, pessoas ou governos, mas garante que o “digital” traga bem-estar para a sociedade. Para que isso ocorra deve-se garantir que os avanços tecnológicos estejam integrados à formação do capital humano. Trata-se não apenas de formar mão de obra, mas também de garantir que a transformação digital seja inclusiva. É preciso criar incentivos e investir em ações que garantam o preenchimento das vagas dos empregos do futuro.