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Com o avançado processo de digitalização, ocupações ligadas à tecnologia se propagam a cada temporada. O Fórum Econômico Mundial prevê crescimento acima de 51% para as chamadas novas profissões do futuro, já neste ano, representando nada menos que 6,1 milhões de oportunidades de emprego em todo o planeta. Entre essas atividades, destacam-se as ligadas a dados, especialista em inteligência artificial, engenharia e computação em nuvem, marketing, vendas e produção de conteúdo, analista de insights e desenvolvedor de inteligência de negócios.
"Assim como o mercado vem mudando, como reflexo da globalização, os perfis ocupacionais também se alteram. Ainda seguimos uma ideia do profissional celetista, com 40 horas semanais, benefícios e garantias de direitos trabalhistas, para que não haja um desmonte dessas pautas conquistadas a duras penas", diz o psicólogo clínico escolar, Vinícius Mota. Ele avalia que, por outro lado, verifica-se uma demanda mercadológica por profissionais com perfil tecnológico com garantia de flexibilidade, trazendo a possibilidade de serem pessoas jurídicas, definindo, assim, carga horária menos rígida, além de ambiente de trabalho na própria casa.
Responsabilidades
"Isso tem sido um dos fatores atraentes para que os jovens busquem por essas formações. É um campo que exige um conhecimento prático, e não tanto academicista. Muitas empresas têm usado dessa necessidade para que, por meio de cursos profissionalizantes, possam arregimentar. Dessa forma, é melhor 'formar' dez profissionais e recrutar apensa um para seu banco de colaboradores do que ficar à procura de especialistas que, muitas vezes, já estão bem empregados."
Mota considera ainda que, nesse contexto, o preparo dos jovens vem exigindo amadurecimento precoce. "Suas responsabilidades se tornam cada vez mais presentes quando se assume um trabalho como esse. Administrar uma carreira, ou mesmo um CNPJ, não está em nosso currículo. Isso faz com que muita gente se deslumbre com altos salários e propostas de trabalhos encantadoras", afirma.
Autonomia
Ainda segundo o psicólogo, no desenvolvimento dos jovens e adolescentes de hoje, a autonomia tem sido algo bastante observado. Segundo ele, persiste a necessidade histórica de querer superar expectativas das outras pessoas. "Ainda é presente o silenciamento de nossos adolescentes, visto uma lógica adultocêntrica acreditar que nossos pensamentos, enquanto adultos, são sempre 'os melhores' para os outros", diz, ponderando que esses dados mostram que existe um movimento, mesmo que tímido, de valorizar, ouvir e acolher o que nossos jovens e adolescentes querem, evitando, assim, frustrações futuras.
Vulnerabilidade
Para Leonardo Libman, sócio-fundador e CEO da Seren Edtech Brasileira, desenvolvedora da metodologia de ensino baseada na experimentação vocacional, o país vive um problema crônico, seja na escola pública ou privada: disponibilizar aos alunos alguma ferramenta ocupacional para que, no momento mais vulnerável de suas vidas, façam a opção por alguma carreira sem ter os olhos vendados, sem autoconhecimento e, principalmente, sem conhecer as opções do mercado.
"É imprescindível que haja uma solução educacional que antecipe a consciência sobre a decisão da escolha de uma carreira. Não disponibilizar uma ferramenta adequada acarreta em gerações cada vez mais frustradas. Hoje é comum os jovens tomarem decisões precoces, sem entender nada. É urgente disponibilizar soluções que tragam clarividência sobre como a educação se comunica com profissões futuras", diz.
Para Libman, as novas gerações devem conhecer mais sobre o dia a dia de cada profissão, suas dores e alegrias. "Todas as áreas têm várias ramificações. Pense em medicina, engenharia, comunicação, direito, nutrição e outras. Em todas, o leque de variáveis é muito grande. Para ilustrar, imagine um profissional de nutrição, qual a visão do trabalho que ele executa? Em algum momento a profissão de nutricionista foi relacionada ao rótulo das embalagens dos produtos que se consome? Possivelmente não, mas essa é uma das atribuições desse profissional. Essa particularidade não é detalhada em nenhum manual de profissão ou teste vocacional, mas poderia ser narrada em detalhes por aquele que a executa", exemplifica.
Muito além do ensino teórico, ele defende a necessidade da preocupação em mostrar ao jovem as inúmeras nuances de cada área e o que cada profissional realmente faz na prática nessas variáveis. "Essa, certamente, será uma ação que a iniciativa privada deverá tomar para si, pois, por enquanto, o governo está num estágio anterior, como é o caso do novo ensino médio, que, não se pode negar, é um avanço, mas é preciso oferecer mais do que isso, para que, assim, tenhamos mais profissionais felizes", afirma, concluindo que os testes vocacionais hoje aplicados são focados mais na teoria do que na prática.